Sunday, January 22, 2006


"Me atirava do alto
na certeza de que alguém
segurava minhas mãos,
não me deixando cair.
Era lindo mas eu morria de medo.
Tinha medo de tudo quase:
Cinema, Parque de Diversão, de Circo, Ciganos..."
"Aquela gente encantada que chegava e seguia.
Era disso que eu tinha medo.
Do que não ficava pra sempre."

Thursday, January 19, 2006

Dialética de um quase

Sento em minha mesa de trabalho
e percebo o quanto me dilacero
me ultrajo, me venero
pela perfeição

Com um tossir quase doentio
Recordo-me de poetas românticos
que repassavam aos pulmões
as dores do coração

Passo os olhos em Foucault
e reparo como por um fio
meu olhar frio e vazio
hoje escapa da internação

Recorro ao maço de cigarro
e vejo sumir em espirais
meus exagerados carnavais
pela presença de um não

Não sou eu, não é você, não é ninguém
O que não se sabe também enrola a garganta
amarrota, petrifica e encanta
num ruidoso espetáculo que não convém
Você sabia disso, não sabia meu bem?

Saturday, January 14, 2006

Os olhos dos outros

Ao perder-me em teus olhos
entendi o quanto não sei quem sou
escrevendo metáforas aparentemente românticas
disfarço minha angústia

O defeito perfeito foi revelado
sabe-se lá por quem
e me apego a ele como se fosse o único
que traiçoeiramente me reinventou

Qual o caminho que realmente me encanta
Já não sei mais
mas sei que não é qualquer um que serve
talvez já seja um pedaço de mim

Caminhando pelas ruas
de uma cidade confusa e engraçada
Vi pessoas perguntando incessantemente
umas as outras: Quem eu sou?

Pessoas se vestindo como falaram que era adequado
Conversando o assunto apropriado
para cada situação
se anulando pelo desejo do olhar do outro

Eternas mutações sem sentido
Atos vazios, máscaras truncadas
O lugar certo, a hora certa
Um dia lhe ensinaram que é assim

Neste reinado de soberanos imaginários
encontrei a minha mais forte vontade
Percebi que não quero existir em teus olhos
quero ser alguém apesar do teu olhar...