Thursday, September 22, 2005

Anotações de uma estagiária

Cadê todo mundo?
Tô cansada, quero um final de semana com piscina e água fresca
Quero tomar uma cerveja.
Cadê o meu menino que não me manda notícia?
O pessoal tá achando que eu tô anotando alguma coisa do grupo.
Devem estar pensando, o que será que ela tanto escreve?
Deixa eu parar com isso...Disgrafia, isso é sintoma psicótico
Verborréia
Um silêncio esquisito
Resistência, resistência, ô transferência braba
Engraçado, parece que agora eles estão defendendo a supervisora.
Fátima reclama da falta de elogio, todos só reclamam
- Trabalhar auto-estima e valorização do trabalho-

Sunday, September 18, 2005

Soneto de Corifeu

São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

Vinícius de Moraes

Saturday, September 17, 2005

Ver vermelho




Tinha visto o rubro a passear entre as pessoas
Ao mesmo tempo da repulsa, inquietava-lhe o desejo
Enamora-se da vida que a solidão lhe abraça
Na mesquinhez cândida do seu beijo
Aprendera a ser aquilo que passa
Por inocência caminha entre serpentes
Anseando mordidas, noite após noite
Por ser livre encantam-lhe as correntes
Quando desnuda o próprio colo a espera de um açoite...

Tuesday, September 13, 2005

Resposta ao Tempo

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer

Nana Caymmi

Friday, September 09, 2005

Pretérito Imperfeito


Ela ia enquanto escurecia
Lacrimejava enquanto o outro ria
Mas se portava como o rio que passa
imerso em escondida melancolia
Ele não sabia
Mas era ela quem vivia, enquanto ele fingia

Wednesday, September 07, 2005

$

Entre a paranóia e a projeção
Espelho em você minhas confusões
E fico com medo dos nós entre os dois

Monday, September 05, 2005

Você



E se um dia você passar
Como um sopro de vento
pede a um passarinho um canto mais forte
pra que eu te espere
despida de histórias,
cantos e inquietações
e de cabelos soltos