Sunday, July 06, 2008

Os pés por asas

Ponha os pés no chão! disseram-me um dia
Quando contei, em segredo, que de certa forma posso voar...

E passei muito tempo tentando alcançar o chão....

O amargo disso tudo foi que não encontrei...
Encontrei algo além dele, talvez abaixo



Descobri onde moram aqueles que não tem asas
Pra quem a vida é crua
Pés descalços que não pisam o chão
Pés descalços de sonhos, sobre um pedaço de lama
Sobre pedras pontiagudas
Algum tempo caminhei com eles, achando que o caminho era mesmo assim
Ponha os pés no chão! eu lembrava
Em resignação seguia muda
E os pés doíam, o cansaço aumentava
Um enorme peso sobre as costas
As asas amarradas
Entre a dor e o cansaço os "sonhos possíveis"
a matéria que envolve o humano
Ter... Poder... Vencer...
Vencer o quê? Ter o quê? Pra quê tanto posso, não posso
Um sopro no rosto, um rosto estranho
Um resto de pés machucados
...
Sem poder mais andar, enfim uma certeza...
Quem poderá saber aonde está o chão que devo pisar?
E desamarro minhas asas como a bailarina
que calça sua sapatilha num gentil movimento,
afastando
o possível encontro dos pés
ao chão

Retorno


A terra escura, a noite dura, o frio
De súbito lampejo, um pulo de gato
um rio
Que era crua, a vida muda
O ato, o fato, o fardo
farta enfim a luz, embora
Imatura aurora
Que enorme alegria
sorri para mim
um bebê poesia...