Thursday, August 11, 2005

Questões Íntimas


Onde se encontra o que era ontem? Onde buscar o momento exato em que algo pareceu ser quase normal? Onde colocar o vaso verde com plantas verdes? Aonde ir? Onde encontrar, enfim, o perfume que combine com a pele? Onde sentar, ao entrar em um escritório? Na cadeira à direita do anfitrião, ou à esquerda?

Onde encontrar aquela amiga de infância que entendia tudo o que se dizia, sem precisar explicar para ela que certos assombros da vida continuam acontecendo e merecem comentários, tanto quanto os da época em que éramos amigas de verdade?

Onde, a época? Onde o baú de madeira do meu pai que tinha algo interessante dentro? Onde o interessante? E o que era mesmo interessante, lá dentro?

Onde a real liberdade e as falsas falsidades? Onde o banheiro de ladrilhos brancos? Onde pegar quando alguém entrega uma bandeja com torta quente? Onde arranjar um lugar pra pensar que tudo que se pensa é normal? Onde o varal de roupas com cheiro de amaciante?

Onde o que era antes?

Onde o que era quando?

Onde o que era o que?

Onde a noção exata de que o limite se encontra aqui?
Agora e para sempre.
E rompo com meus limites. Liberto-me do medo de ser só, porque descobri que na realidade sempre fui, apesar de desejar o contrário.
Acabo de me sentar no núcleo de meu ser, ciente de que da mesma forma que cheguei aqui, vou sair.
E em nada me aborrece tal fato, simplesmente por não poder modifica-lo. Apenas o cumpro. Como tantos cumprem tanto. Ou muitos nada cumprem. E outros cumprem por tantos.
Eu apenas continuo, em marcha lenta, o caminho atazanado por algumas pedras em seu meio. Via desrespeitada.
Já nem vislumbro os dias crentes, quando sonhamos com o impossível e inviável sistema da felicidade. Éramos jovens demais para percebermos a ilusão que nascia em nossos corações e mentes.

E, me questiono, intimamente, se os tempos mudaram, ou mudamos nós.”

E me desnudo para o papel, testemunha única de minhas lembranças.
Ana Luísa Peluso

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